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Nota
publicada na revista "O Globo" do jornal O Globo de 18/02/2007.
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Bromélias não constituem focos preferenciais
do mosquito do dengue
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Renata Fontoura |
Um estudo desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC)
da Fiocruz aponta que, em locais de interface entre o ambiente urbano e
silvestre – como parques e encostas de morros –, as bromélias não têm um
papel importante na proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor do vírus
do dengue. Durante um ano, 156 bromélias situadas no Jardim Botânico do
Rio de Janeiro foram monitoradas, recobrindo dez espécies. O resultado do
estudo aponta para o baixo índice de presença das formas imaturas do A.
aegypti, gerando indícios que redirecionam o trabalho de prevenção. |
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A água acumulada nas folhas, que serve como reservatório
de nutrientes para a planta, foi analisada com o objetivo de verificar a
presença de formas imaturas de mosquitos (como larvas e pupas) e de identificar
o porcentual de presença do vetor do dengue. “Antes mesmo da realização
de estudos sistematizados sobre o tema, medidas como a eliminação das bromélias
e o uso indiscriminado de inseticidas já vinham sendo adotadas pela população”,
afirma o biólogo, que desenvolveu o trabalho no Laboratório de Transmissores
de Hematozários do IOC como estudante de iniciação científica. |
“Apenas 0,07% e 0,18% de um total de 2.816 formas imaturas
de mosquitos coletadas nas bromélias durante o período de um ano correspondiam
ao Aedes aegypti e Aedes albopictus, sugerindo que as bromélias não constituem
um problema epidemiológico como foco de propagação ou persistência desses
vetores”, diz Mocellin, acrescentando que o estudo foi desenvolvido durante
um ano inteiro para que fosse possível observar as características sazonais
de cada estação. A presença do Aedes albopictus também foi investigada porque,
apesar de não haver registros da transmissão da dengue por esta espécie
no Brasil, em condições experimentais o mosquito se mostrou capaz de atuar
como vetor potencial do vírus. O jovem pesquisador destaca que no mês de
abril, em que houve a maior taxa de captura, foram encontradas 376 formas
imaturas de mosquitos nas bromélias analisadas. Deste total, apenas dois
exemplares correspondiam ao gênero Aedes. |
A constatação de que as espécies encontradas em maior
número nas bromélias monitoradas não oferecem perigo à saúde humana foi
outro dado relevante. “Verificamos a prevalência de espécies de Culex com
importância epidemiológica nula e que sugam animais de sangue frio. A sua
presença em grande número nas bromélias indica que a invasão do vetor do
dengue neste espaço não deve ser simples, já que ele teria que competir
com insetos mais adaptados àquele ambiente”, avalia o entomólogo Ricardo
Lourenço, orientador do estudo. “Esta pesquisa indica que as larvas de Aedes
encontradas nas bromélias não devem ser supervalorizadas no trabalho de
prevenção e reforça que os esforços devem ser voltados para os focos principais,
como caixas d'águas destampadas ou mal tampadas, tonéis, piscinas e outros
depósitos com água parada”, adverte. |
Segundo o pesquisador, a escolha do bromeliário do Jardim
Botânico para realizar a pesquisa não foi um acaso. “O Jardim Botânico é
uma interface entre o ambiente seminatural (a Mata Atlântica) e o ambiente
urbano (bairros da Gávea, Horto, Jardim Botânico) e ali são cultivadas espécies
de todas as regiões do país. Além disso, o estudo mostrou que as bromélias
localizadas em parques como este ou em encostas, como as da Urca, Leme e
Pedra da Gávea, não constituem uma ameaça”, complementa, destacando que,
apesar disso, a queima de encostas para destruição de bromélias vem sendo
freqüente. “A destruição indiscriminada de bromélias vem sendo utilizada
como uma suposta forma de prevenção ao dengue, pois tem sido divulgada uma
idéia de que as bromélias são importantes focos do mosquito. Estamos justamente
provando o contrário e seria importante que as práticas de prevenção acompanhem
as descobertas da ciência. A queima de encostas com bromélias para fins
de prevenção, portanto, não é uma prática eficaz e desfoca a ação de controle
que deveria se concentrar nos focos comprovadamente geradores de mosquitos”,
afirma. |
Para Maria Lúcia Teixeira, responsável pelo Laboratório
de Fitossanidade do Jardim Botânico – que, entre outras atividades, faz
o controle de doenças e pragas no parque – e co-autora do trabalho, o resultado
traz tranqüilidade aos visitantes e moradores da região. “Apesar de não
havermos registrado casos de dengue entre os funcionários, precisávamos
de um estudo aprofundado para comprovar se as bromélias são focos de Ae.
aegypti na nossa situação, em que estamos junto à floresta mas com a presença
constante de pessoas”, explica. |
De acordo com informações da Secretaria Municipal de
Saúde do Rio de Janeiro, os índices de infestação predial por Aedes aegypti
na Gávea e Jardim Botânico, bairros vizinhos ao Jardim Botânico do Rio de
Janeiro, eram de 3% e 4,45%, respectivamente nos meses de janeiro a abril
de 2006. Ou seja, a cada três ou quatro domicílios inspecionados foram encontrados
um ou muitos focos com larvas e pupas de Ae. aegypti, que poderiam ter dezenas
delas. “Estes números, considerados altos pela Organização Mundial de Saúde
porque ultrapassam 1%, contrastam com a baixa freqüência de formas imaturas
destes mosquitos invasores nas bromélias do Jardim Botânico, onde somente
duas larvas foram coletadas e uma única planta após 480 inspeções", confirma
Mocellin. |
O próximo passo da pesquisa prevê a investigação da incidência de larvas do vetor da dengue em bromélias localizadas em ambientes exclusivamente urbanos. “Um dos principais alvos da nova etapa do projeto, que deve ser iniciada no segundo semestre, inclui a coleta em condomínios, por exemplo, lugares em que existe maior intervenção humana”, conclui Mocellin. |
Texto transcrito do site da FIOCRUZ - www.fiocruz.br
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